Por Geraldo Alckmin, PSDB isola Aécio



Quando a história da crise dos últimos anos for contada, poucos casos serão tão simbólicos quanto o de Aécio Neves. Depois de construir uma carreira política significativa, para a qual a presidência “era destino”, como na frase atribuída a seu avô, Tancredo Neves, Aécio obteve 51 milhões de votos em 2014. Por pouco não chegou ao Planalto. Quatro anos depois, foi flagrado em áudios comprometedores, manteve enquanto pode a união de seu partido com o governo denunciado de Michel Temer, numa tentativa de salvação recíproca, e, finalmente, virou réu por corrupção.
Agora, Aécio é uma figura tóxica para seus colegas de PSDB. Em nome da candidatura de Geraldo Alckmin, os tucanos transformaram seu ex-presidente em boi de piranha para um público sedento por punição aos corruptos.
Gravado pedindo dinheiro a Joesley Batista, que seria propina segundo o empresário, Aécio parece ser alvo de uma espécie de “cordão sanitário”. Os comentários do próprio Alckmin são sintomáticos.
“O Aécio sabe o que penso. É claro que o ideal é que não seja candidato, é evidente”, afirmou Alckmin na manhã de quarta-feira, à Rádio Bandeirantes. Durante a tarde, reiterou a fala. Outros correligionários tucanos seguiram a mesma toada, com argumentos na linha de que a “lei é para todos”. Para eles, o ideal é que Aécio suma do mapa, de maneira a reduzir os dedos apontados ao partido quando o tema corrupção for invocado.
Mais uma vez, uma frase de Alckmin indica que o motivo do isolamento de Aécio é a tentativa do PSDB de fugir da imagem de partido corrupto. “Diferentemente do PT, que desacredita as instituições, nós não fazemos isso. Não tem Justiça vermelha, azul, verde, amarela. Tem Justiça. E decisão judicial se respeita”, disse o governador.
Compreende-se a busca do PSDB por mostrar que é “muito diferente” do PT. Há duas décadas, o partido protagoniza a política nacional ao lado do PT. Ainda que líderes petistas importantes tenham sido condenados em múltiplos casos de corrupção e diversas ações envolvendo tucanos tramitem de forma mais vagarosa, é razoável crer que o público imagine ser a corrupção fruto não de um partido, mas de um sistema sustentado justamente por PT e PSDB.
Ao contrário do PT, no entanto, o PSDB não é um partido de massas. A pesquisa Datafolha publicada nesta semana mostrou que o PT é a sigla preferida de 20% dos eleitores. O PSDB aparece em terceiro lugar, com meros 3%.
O levantamento também mostrou Alckmin estacionado em um patamar entre 6% e 8% das intenções de voto. Em abril de 2014, Aécio era o segundo colocado, com 16%. Hoje não há perspectivas de que isso ocorra em curto prazo. O PSDB, e seu candidato, Alckmin, veem muitos nomes roubando votos, à esquerda e à direita.
A campanha oficial pode melhorar o cenário para o PSDB, mas hoje o partido não é mais o repositório dos votos dos insatisfeitos, como foi por quatro eleições consecutivas. Alckmin terá de articular um novo discurso capaz de reconstruir a imagem do partido. Para isso, quanto mais longe dos holofotes Aécio estiver, melhor.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

VI SIMPÓSIO DE DIREITO ESPORTIVO OAB RJ

OAB Niterói homenageia advogados trabalhistas em solenidade a ser realizada dia 19 de junho

Prêmio Colunistas 2018. Entramos no Ano 51!